“Monsenhor Boson” – Além da biografia

Teresina-PI

Escritor José Ribamar Garcia.
Escritor José Ribamar Garcia.

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José Ribamar Garcia  (*)       

            “Monsenhor Boson – O Missionário da Educação”, de autoria de Arnaldo Boson Paes, editado pela Bienal Editora, Teresina-Pi, 2023, é um livro que já nasceu clássico. Um clássico de nossa Literatura. Pois, vai além da história da vida desse extraordinário religioso, Constantino Boson e Lima, nascido em São Raimundo Nonato, outrora Vila de São Raimundo Nonato. 

Ao ficar órfão de pai e mãe, aos sete e oito anos de idade, foi amparado pelo tio que era padre e de quem teve grande influência. Esse tio o levou para São Luís, onde ele ingressou no seminário e ordenou-se padre aos 23 anos, quando “formalizou seu casamento com a Igreja”, assinala o autor.

Após 18 anos de exercício vocacional na capital maranhense, foi designado para o Piauí, assumindo a paróquia da cidade de Barras do Maratoan. Ao chegar ali, foi construindo uma igreja, adotando o Evangelho de São Mateus: “Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” (28:19). Daí por diante, dinâmico que era, não parou: lecionando, abrindo escolas e templos. Tornou-se um dos maiores educadores do País. 

           O autor, ao mesmo tempo em que narra a biografia do monsenhor, descreve os hábitos, costumes e origens dos locais, assim como os acontecimentos e fatos históricos daqueles momentos. Mesmo que alguns deles não tenham influenciado diretamente o biografado, servem para situá-lo no tempo e esse tempo surge também como uma espécie de pano de fundo da sua trajetória. De qualquer modo, dão à narrativa um tom agradável.

Eis alguns trechos: “À época, o Piauí contava menos de 200 mil habitantes e Teresina, capital da Província desde 1852, não chegava a 20 mil moradores. O País escalava a guerra contra o Paraguai, O Piauí vivia da pecuária…”(pag.21). Isso no ano do nascimento do monsenhor Boson.

E prossegue: Nas pags. 50/51, narra como era a viagem de Teresina a Barras. Nas 52/58, hábitos dos moradores da cidade de Barras. Na pag. 100: “Em 1929, quando Boson chegou a Parnaíba, o mundo estava mergulhado na grave crise econômica deflagrada pelo ‘Crack’ da Bolsa de Nova York. Nos anos seguintes, o mundo assistiria à ascensão de Hitler ao poder e à marcha trágica para a Segunda Guerra. No Brasil, eclodiriam sucessivamente a Revolução de 30, a Era Vargas, a Guerra Paulista de 32, a Revolução Comunista de 35 e o Estado Novo de 37”.

          Outro aspecto interessante foi a conexão do monsenhor com alguns dos contemporâneos que se tornariam famosos.  Dentre eles, José de Arimathéa Tito, de quem se tornou compadre, ao batizar seu filho Arimathéa Tito Filho; Leônidas de Castro Melo; Manoel Paulo Nunes; Dom Avelar Brandão Vilela; Padre Chaves (Joaquim Raimundo Ferreira Chaves). 

        Se o objetivo de Arnaldo Boson era resgatar a história do monsenhor Boson, pode considerar-se realizado. Pois conseguiu, e com louvor. Creio que valeu as inúmeras entrevistas e os esforços exaustivos despendidos na busca de documentos e de informações sobre fatos ocorridos há oito décadas passadas.

Creio, ainda, não fosse sua tenacidade, determinação e, sobretudo, inteligência, não teria atingido ao que se propôs. E alcançou com brilho, haja vista o resultado: este belo e importante livro. Escrito num estilo simples, leve e direto, dando uma naturalidade à narrativa.   Parabéns!

 (*) José Ribamar Garcia é advogado e escritor. Membro da Academia Piauiense de Letras.

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