Morte do senador surpreende e choca piauienses
Zózimo Tavares (*)
O inesperado falecimento do senador Dirceu Arcoverde, aos 53 anos e com apenas 44 dias de mandato no Congresso Nacional, foi um choque para os piauienses.
A surpresa maior, entre familiares e amigos, se dava pelo fato de que ele, como médico, cuidava bem da própria saúde.
Assim, cumpria voluntariamente uma dieta espartana: não bebia, não fumava, não tomava café e sua alimentação era das mais equilibradas.
Além disso, fazia caminhada diária de uma hora e se apresentava sempre muito sereno.
Tensão na véspera
O deputado federal Paulo Ferraz (1919 – 1981) foi o último político a almoçar com Dirceu Arcoverde, no restaurante do Congresso Nacional:
– Fui por insistência dele, que desejava muito – conforme disse – conversar comigo. Como sempre, quase nada comeu. Enquanto eu me deliciei com um prato de muito gosto, ele pediu posta de peixe, da qual comeu apenas a metade, com uma pequena porção de “pirê”, completando a refeição com meio copo de água mineral. Concluímos o almoço a uma hora e quarenta minutos, quando ele foi para o gabinete e eu saí para casa. Mostrava-se preocupado com o discurso que ia proferir, dali a instantes, na tribuna do Senado, sobre problemas da saúde. Disse que havia dado tudo de si para realizar uma boa estreia.
O AVC na tribuna do Senado
Após o Acidente Vascular Cerebral (AVC) que sofreu na tribuna, na tarde daquele 9 de março de 1979, Dirceu ficou internado na UTI do Hospital do Ipase, em Brasília.
O quadro era sombrio, apresentando-se como irreversível.
A partir daí os jornais de Teresina davam manchetes diárias sobre a delicada situação do senador.
O jornalista e escritor José Lopes dos Santos registrou, em seu livro Dirceu Arcoverde – Missão cumprida”, publicado logo após a morte do senador:
“Quem viu, pela televisão, suas fotografias falando no Senado, constatou que ele perdeu o controle de uma das mãos, passando a gesticular com a outra, até concluir o discurso, quando não tombou por ter sido amparado a tempo”.
Levado às pressas para o hospital, o senador foi operado para a retirada do coágulo que se formara com o AVC.
A esperança por um fio
O escritor contou, ainda, com base nas informações recebidas de Brasília, como secretário de Governo – portanto, com acesso a informações privilegiadas:
“O doente passa normalmente, dentro das condições atuais de saúde. Há esperanças“.
Em outro registro, José Lopes dos Santos observa:
“Todas (as esperanças) em vão. A partir das 4 horas da manhã do dia 16, a pressão arterial descontrola-se e fica oscilando violentamente”.
O senador viria a falecer às 10h20, enlutando o Piauí. Era uma sexta-feira.
A despedida
O corpo do senador chegou a Teresina no começo da noite. A cidade era tomada por um clima de comoção pública.
Chovia e me recordo que houve o comentário: “Até o céu chorou pelo Dr. Dirceu!” (Continua…)
(*) Zózimo Tavares é jornalista e escritor. Autor da biografia “Dirceu Arcoverde – Uma esperança interrompida”.